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Porquê escrever?

Verdade, também isso se perde porque a memória, aprendi por mim, é indispensável para que o tempo não só possa ser medido como sentido.
José Cardoso Pires "De profundis"
Este blog é , possivelmente, fruto do meu medo de esquecer. Lembro-me de ler, quando estava no secundário, o livro “De profundis” do José Cardoso Pires. Reli-o umas quantas vezes logo de seguida, já não me lembro das palavras, mas lembro-me que o medo de, um dia, acordar sem memória de quem sou, ficou comigo. Dificilmente consigo imaginar alguma coisa tão desconcertante, como não sabermos quem somos, donde viemos, o que fizemos, como chegámos até ali. A memória é feita de uma teia de fios invisíveis que nos unem à vida, ligam-nos às pessoas que conhecemos, aos sítios onde fomos felizes. A memória dá-nos sentido. Escrevi diários desde os 11 anos até aos 18, páginas e páginas. Quando os leio, vêem-me à memória coisas que nem sabia terem acontecido, sabia mas não me “lembrava”.

Escrever permite-me lembrar as coisas e dar-lhes sentido mas não é, por isso, que escrevo. Não sei porque escrevo. Sempre escrevi, desde os 11 anos que sempre que alguma coisa me marca, penso “tenho de escrever sobre isto”, sempre que gosto de um filme, sempre que faço uma viagem, sempre que observo as pessoas com atenção e reparo nalgum pormenor que não quero esquecer. Aos 18, a faculdade tirou-me o tempo para escrever um diário mas todos os dias, no comboio, fazia uma lista sobre as coisas que tinha de escrever. Páginas soltas que nem sei onde estão, textos perdidos no computador.

Acho que quem escreve, não é preciso ser escritor, mas quem escreve por hábito, por rotina, não sabe muito bem porquê que o faz. Mas as palavras fazem-nos sempre falta, quando não as escrevemos.

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