Atenas. O luxo envergonhado na capital da crise

Na Grécia não há só novos pobres com vergonha de o serem. Também há ricos com pudor de o assumir.

Joana Pereira Bastos (texto) e António Pedro Ferreira (fotos), enviados à Grécia.
8:00 Quarta feira, 21 de janeiro de 2015

Mudança. O luxo existe mas está mais escondido. Pedem-se sacos de plástico não
identificados e o comércio online disparou. A dois passos da Praça Sintagma, palco de 
todas as manifestações contra a austeridade em Atenas, há uma rua com lojas de luxo 
a que não faltam clientes. Mas num país onde mais de 40% da população ficou em risco 
de pobreza nos últimos anos, os mais abastados preferem agora não exibir sacos da 
Louis Vuitton ou da Cartier. 
Concentradas em Kolonaki, o bairro mais seleto da capital grega, as lojas de luxo estão
guardadas por seguranças e algumas mantêm as portas trancadas. É preciso tocar para
entrar. Lá dentro não há sinais da austeridade. Cá fora ela está por todo o lado.
O contraste assusta alguns dos clientes. Os que podem ter aquilo com que a maioria
já nem ousa sonhar chegam a gastar milhares de euros em compras, mas na altura de
sair optam por escondê-las em simples sacos de plástico. "Antes pediam os embrulhos
e os sacos com o nome da marca. Agora não. Quando estão a pagar, alguns clientes
perguntam se não temos sacos de plástico não identificados para poderem guardar o que
compraram", conta ao Expresso um funcionário da Louis Vuitton.
Por aqui, a discrição é a palavra de ordem. Ao contrário do que acontece no resto da cidade,
onde a maioria das pessoas aceita facilmente falar com os jornalistas, na rua pedonal
Voukourestiou, onde se situam lojas como a Cartier, Prada ou Ermenegildo Zegna, todas
fogem, em passo apressado, a qualquer pergunta sobre a crise.    
"Os clientes estão mais cuidadosos e têm pudor de serem vistos a entrar em lojas ou
restaurantes de luxo", diz Antoine,francês dono da mercearia gourmet Contesse du Barry,
que exibe na montra champanhes e caviar.
Para fugirem ao olhar dos outros, muitos dos mais abastados preferem agora comprar
através da internet. O comércio online disparou na Grécia desde o início da crise. Em média,
os gregos gastam 1300 euros em compras na Net, quase 500 euros a mais do que a média
da Europa do Sul.
Para alguns, a crise pode não se ter sentido no bolso. Mas deixou marcas.
"Há uma alteração de comportamento e um efeito psicológico evidente", conta Antoine.
Não foi apenas a bolsa a cair no dia em que foram convocadas as eleições.
Com a instabilidade e o medo do futuro, as vendas da loja gourmet e de outras lojas de luxo
também baixaram a pique a partir daí.    


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